Conversas com Deus

Conversas com Deus

Quando eu era criança, conversava com Deus. Era meu amigo para todas as horas, todas as sensações e todas as cumplicidades. Ele compreendia tudo aquilo que ninguém ao meu redor conseguia entender. Depois, fui crescendo e fui ouvindo histórias. Me falaram tanto de Deus e me impuseram tantas crendices, tolices e insanidades sobre Ele que, por medo e desconfiança, parei de compartilhar tudo aquilo que imaginava. Até hoje lembro o momento em que ia confidenciar-lhe algo, mas indeciso e assustado, calei-me. Este foi um dos primeiros grandes sofrimentos que tenho memória. As baboseiras insinuadas foram mais intensas e poderosas que a amizade. Haviam abusado de minha inocência e ignorância para separar-me de meu inseparável Amigo. Senti-me tão frustrado e traído que, como revanche, inventei pecados para que Ele fosse atormentado por tanta dor e impotência quanto eu havia sentido. Muitos anos passaram até que, certo dia, resolvi questionar aquelas histórias que me contavam. Então, embarquei numa aventura cujo destino era remover a ignorância que havia destruído nossa amizade. Meu primeiro passo foi aceitar a possibilidade de que nossa amistosa relação permanecia intocável e, desde então, muito embora a jornada tenha apresentado suas árduas demandas, na maioria dos passos tem sido reveladora, magnificente e construtiva. Aqueles contadores de histórias tornaram-se mudos, pois suas palavras perderam valia. Vez que outra, abro o coração e lhes revelo aquilo que eles não sabem e, por não saberem, distanciam-se. O que lhes falo é sobre o amor, a liberdade e a sabedoria que são, em essência, outros nomes que pelos quais Ele se comunica comigo. É o amor que nos manteve sempre conectado, a liberdade para que eu partisse e voltasse e a sabedoria para entender que o amor e liberdade são inseparáveis. Hoje, a criança que há em mim, assim como eu, conversamos com Deus. (Tadany – 23 07 11)

PS: Para citar este texto:

Cargnin dos Santos, Tadany. Pensamento 1023. www.tadany.org