Contaram-me 53 - O Materialista e o Jovem
Sua vida era uma dialética materialista expressão de suas rígidas e, às vezes, intolerantes conclusões.
Costumava dizer, "O que não é perceptível aos sentidos, pertence ao reino do metafísico e, neste campo, as fantasias, as confusões e as distorções humanas reinam descontroladamente soltas."
Mas certo dia, resolveu viajar. Ver outros mares, experimentar outros sabores, apreciar outras cores e conhecer novas pessoas.
Então, após alguns meses na estrada, estava caminhando solitário por um bosque quando encontrou, à beira de um rio, um rapaz que, em silêncio, observava o constante fluxo do rio.
Aquela cena despertou curiosidades em sua essência. O que faria um jovem, no meio do nada, num estado aparentemente estático, fitando intensamente um rio?.
Assim, recheado de dúvidas, aproximou-se daquele ser distinto. Parou ao seu lado e, notando que havia despertado a atenção de jovem, perguntou-lhe:
- "O que você está fazendo aqui?"
- "Apreciando as belezas e a paz da natureza, assim como a fluidez deste rio, pois nele encontro sutis revelações que auxiliam o processo de entendimento do porquê a vida existe, assim como algumas dicas de como devo conduzir minha caminhada". – Respondeu o jovem.
- "Tudo isto apenas olhando para uma fluxo de água?. Isto parece-me brincadeira, ou talvez você esteja delirando." – Exclamou, perplexamente, o viajante.
E, sem pestanejar, adicionou. – "Acredito que as pessoas vivem num constante estado de fuga da realidade, do que é prático, do que é tangível, do que é mensurável e, por fazê-lo, desvirtuam a veracidade das coisas e se infiltram num redemoinho de imperceptíveis conceitos e idéias que as conduzem à um mundo fantasioso, surreal e perigoso."
- "Pode ser", respondeu calmamente o jovem. – "Mas também pode ser que eles estejam tentando entender a essência das coisas que permeiam o seu ambiente".
- "Essência???", exaltou quase incrédulo o visitante. "Qual essência?. Tudo as coisas que existem, existem porque temos a capacidade de percebê-las. No entanto, acho um tremendo desperdício que as pessoas viajem em mundos intangíveis como energias, auras, luzes, almas, sensações extra-sensoriais, plasmas espirituais e outras infinidades de ilusões que as aprisionam e as segregam do mundo real".
E continuou, -"Quando as primeiras dúvidas existenciais começaram a surgir na minha mente, junto com alguns amigos, decidimos fazer uma experiência simples para validar, ou negar, a realidade que nos cercava. Naquele então, conseguimos permissão para abrir um caixão no cemitério, pois queríamos ver se no meio daquela ossada, seria possível observar a alma da pessoa morta. O exercício nos provou, irrefutavelmente, que não tinha nenhuma visível alma circundando o esqueleto e, portanto, concluímos que isto não faz parte da realidade, pois contradiz a nossa capacidade perceptiva. Assim sendo, almas não existem, nem essa parafernalha espírito-fantasiosa que as crendices dogmatizam na frágil psique humana."
O jovem, que com sincera atenção escutava o viajor, por alguns segundos observou o rio, respirou profundamente, virou para o lado e perguntou -"Sua Avó ainda é viva?."
-"Não", foi a resposta.
-"Você acha que, se tivesses a oportunidade de abrir o caixão dela, seria possível observar todo o amor que ela sentiu por você durante a vida dela?".
Como um evento cataclísmico que, ao mesmo tempo, causa um frenesi e um silêncio inquebrantável, o viajeiro ficou atônito e calado ao ouvir aquela inusitada e inesperada pergunta. Sua surpresa foi tão grande que não conseguiu responder o questionamento.
Ciente da curiosa situação do momento, o jovem continuou –"Nem tudo que é invisível aos sentidos é inexistente, pois se assim o fosse, o amor, este amálgama que tantos benefícios causa na vida humana, seria facilmente negado. Mas a realidade nos prova que, apesar de ser aparentemente imperceptível, ele é uma intensa e contínua fonte que jorra da essência individual. Além disso, os próprios pensamentos, os quais utilizaste para compartilhar tuas visões, são apenas perceptíveis para você, eu não os enxergo, mas isto não significa que eles não existam. Em outras palavras, a vida humana não é uma simples adesão à exclusivas idéias, nem uma dicotomia segregadora entre espiritual e material, visível e invísivel, emoções e racionalidade, ela é um amplo espectrum que deve ser analisada de uma maneira profunda e cuidadosa, pois para entendê-la é preciso abraçar o todo e, com lucidez, objetividade e perseverança, tentar entender as diferentes ordens de realidade, isto é, a vida relacional-perceptível, os sintomas sutis-imperceptíveis, assim como a causa-origem de todas estas manifestações e, acima de tudo, a interrelação e interdependência entre estes alicerces que arquitetam inteligentmente a manifestação neste universo",
E, ao concluir sua sintética observação, o jovem voltou-se em direção ao rio para regressar aos pensamentos que, anteriormente, ocupavam sua mente.
Então, o transeunte com os olhos esbugalhados, o coração palpitando vorazmente e talvez mesmo sem querer, como se estivesse numa batalha interna entre sua essência e suas convicções, entre seu mecânico viver e uma deliberada força que agora apoderavasse de suas cognição, aproximou-se, sentou-se ao lado do jovem, respirou profundamente e, similar à intensidade de uma criança visualizando algo extraordinário, entregou-se ao simples ato de observar o rio. Aquele rio que, mesmo imperceptivelmente, estava jorrando novos néctares sobre a fluidez de sua essência.
Sua vida era uma dialética materialista expressão de suas rígidas e, às vezes, intolerantes conclusões.
Costumava dizer, "O que não é perceptível aos sentidos, pertence ao reino do metafísico e, neste campo, as fantasias, as confusões e as distorções humanas reinam descontroladamente soltas."
Mas certo dia, resolveu viajar. Ver outros mares, experimentar outros sabores, apreciar outras cores e conhecer novas pessoas.
Então, após alguns meses na estrada, estava caminhando solitário por um bosque quando encontrou, à beira de um rio, um rapaz que, em silêncio, observava o constante fluxo do rio.
Aquela cena despertou curiosidades em sua essência. O que faria um jovem, no meio do nada, num estado aparentemente estático, fitando intensamente um rio?.
Assim, recheado de dúvidas, aproximou-se daquele ser distinto. Parou ao seu lado e, notando que havia despertado a atenção de jovem, perguntou-lhe:
- "O que você está fazendo aqui?"
- "Apreciando as belezas e a paz da natureza, assim como a fluidez deste rio, pois nele encontro sutis revelações que auxiliam o processo de entendimento do porquê a vida existe, assim como algumas dicas de como devo conduzir minha caminhada". – Respondeu o jovem.
- "Tudo isto apenas olhando para uma fluxo de água?. Isto parece-me brincadeira, ou talvez você esteja delirando." – Exclamou, perplexamente, o viajante.
E, sem pestanejar, adicionou. – "Acredito que as pessoas vivem num constante estado de fuga da realidade, do que é prático, do que é tangível, do que é mensurável e, por fazê-lo, desvirtuam a veracidade das coisas e se infiltram num redemoinho de imperceptíveis conceitos e idéias que as conduzem à um mundo fantasioso, surreal e perigoso."
- "Pode ser", respondeu calmamente o jovem. – "Mas também pode ser que eles estejam tentando entender a essência das coisas que permeiam o seu ambiente".
- "Essência???", exaltou quase incrédulo o visitante. "Qual essência?. Tudo as coisas que existem, existem porque temos a capacidade de percebê-las. No entanto, acho um tremendo desperdício que as pessoas viajem em mundos intangíveis como energias, auras, luzes, almas, sensações extra-sensoriais, plasmas espirituais e outras infinidades de ilusões que as aprisionam e as segregam do mundo real".
E continuou, -"Quando as primeiras dúvidas existenciais começaram a surgir na minha mente, junto com alguns amigos, decidimos fazer uma experiência simples para validar, ou negar, a realidade que nos cercava. Naquele então, conseguimos permissão para abrir um caixão no cemitério, pois queríamos ver se no meio daquela ossada, seria possível observar a alma da pessoa morta. O exercício nos provou, irrefutavelmente, que não tinha nenhuma visível alma circundando o esqueleto e, portanto, concluímos que isto não faz parte da realidade, pois contradiz a nossa capacidade perceptiva. Assim sendo, almas não existem, nem essa parafernalha espírito-fantasiosa que as crendices dogmatizam na frágil psique humana."
O jovem, que com sincera atenção escutava o viajor, por alguns segundos observou o rio, respirou profundamente, virou para o lado e perguntou -"Sua Avó ainda é viva?."
-"Não", foi a resposta.
-"Você acha que, se tivesses a oportunidade de abrir o caixão dela, seria possível observar todo o amor que ela sentiu por você durante a vida dela?".
Como um evento cataclísmico que, ao mesmo tempo, causa um frenesi e um silêncio inquebrantável, o viajeiro ficou atônito e calado ao ouvir aquela inusitada e inesperada pergunta. Sua surpresa foi tão grande que não conseguiu responder o questionamento.
Ciente da curiosa situação do momento, o jovem continuou –"Nem tudo que é invisível aos sentidos é inexistente, pois se assim o fosse, o amor, este amálgama que tantos benefícios causa na vida humana, seria facilmente negado. Mas a realidade nos prova que, apesar de ser aparentemente imperceptível, ele é uma intensa e contínua fonte que jorra da essência individual. Além disso, os próprios pensamentos, os quais utilizaste para compartilhar tuas visões, são apenas perceptíveis para você, eu não os enxergo, mas isto não significa que eles não existam. Em outras palavras, a vida humana não é uma simples adesão à exclusivas idéias, nem uma dicotomia segregadora entre espiritual e material, visível e invísivel, emoções e racionalidade, ela é um amplo espectrum que deve ser analisada de uma maneira profunda e cuidadosa, pois para entendê-la é preciso abraçar o todo e, com lucidez, objetividade e perseverança, tentar entender as diferentes ordens de realidade, isto é, a vida relacional-perceptível, os sintomas sutis-imperceptíveis, assim como a causa-origem de todas estas manifestações e, acima de tudo, a interrelação e interdependência entre estes alicerces que arquitetam inteligentmente a manifestação neste universo",
E, ao concluir sua sintética observação, o jovem voltou-se em direção ao rio para regressar aos pensamentos que, anteriormente, ocupavam sua mente.
Então, o transeunte com os olhos esbugalhados, o coração palpitando vorazmente e talvez mesmo sem querer, como se estivesse numa batalha interna entre sua essência e suas convicções, entre seu mecânico viver e uma deliberada força que agora apoderavasse de suas cognição, aproximou-se, sentou-se ao lado do jovem, respirou profundamente e, similar à intensidade de uma criança visualizando algo extraordinário, entregou-se ao simples ato de observar o rio. Aquele rio que, mesmo imperceptivelmente, estava jorrando novos néctares sobre a fluidez de sua essência.
(Tadany – 05 04 15)
PS: Para citar este texto:
Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 53. www.tadany.org ®
PS: Para citar este texto:
Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 53. www.tadany.org ®
google.com/+TadanyCargnindosSantos
A corrupção é primogênita da nossa passividade, minha e tua. Precisamos aceitar o nosso dever de cidadãos para mudar as nefastas realidades que assolam a nossa pátria. (Tadany)
Tudo é mental. Nada existe além de nossa Consciência. (Tadany)
A arte é o orgasmo contínuo da Inteligência. (Tadany)
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