Cada um julga o outro de acordo com o que é
Autor: Regis Mesquita
Abaixo segue um conto coletado na internet, sem indicação do autor. Após o texto estão meus comentários.
O julgamento
"Certa vez um sábio deitou-se ao lado da estrada, imerso em profunda meditação. Passou por ali um ladrão e, ao vê-lo naquele estado, comentou:
- Este homem dever ser um ladrão. Certamente roubou alguma casa à noite e agora adormeceu de cansaço. Logo chegará a polícia e o prenderá. Vou escapar a tempo.
E tratou de fugir.
Pouco depois, passou um bêbado e, olhando para aquele homem deitado, exclamou:
- Bebeste demais e caíste aí. Estou mais firme do que tu e não vou cair.
E continuou seu caminho.
Finalmente, passou por ali um sábio e, percebendo que o homem caído ao chão era um Santo em estado de êxtase, sentou-se ao lado dele e, em silêncio, meditou junto.
Cada um julga os outros por si".
Comentando:
A mente humana é limitada. Por exemplo, o ser humano não enxerga todo o espectro de cores e nem ouve todo o espectro de sons. Ou seja, a realidade é muito mais rica do que nossa mente consegue captar.
Uma pessoa que treina seu "ouvido musical" será capaz de perceber melhor os sons. Desta forma, poderá captar com mais fidedignidade a realidade sonora à sua volta.
O mesmo acontece com todos os outros filtros que existem em nossa mente: paladar, sensações, crenças, valores, condicionamentos, etc.
Cena 1: uma senhora anda pela rua quando vê um grupo de adolescentes vindo em sua direção. Seus olhos enxergam os adolescentes, e seu cérebro processa o significado da imagem. Ela sentiu medo e pensou: será que eles vão me assaltar?
A senhora não conhece os adolescentes. Ela não sabe o que acontecerá (futuro). O julgamento acontece em cima deste não saber. Ela usa como referência crenças e valores que existem dentro da sua cabeça (passado). Esta senhora escutou muitas histórias de violência e assaltos ao longo da vida. Por ser ignorante sobre a vida daqueles adolescentes (presente), ela se protege desencadeando o medo.
Esta senhora é medrosa, é negativa e sente-se impotente. Está condicionada a emitir opiniões negativas sobre as pessoas. Sua mente age da forma como ela se treinou: ao observar o grupo de adolescentes, sua mente "corre para o negativo".
A imensa maioria das pessoas considera esta reação normal. Mas, não é normal. É treino mental para focar o negativo na realidade. Quando não há negativo na realidade, busca-se dentro da própria mente.
Cena 2: Os adolescentes passam pela senhora e vão embora. Eles dão risadas e estão felizes com a vida. Nem notam a senhora assustada e medrosa que passa por eles.
A senhora aprendeu a lição? Da próxima vez que cruzar com grupos de adolescentes sentirá menos medo? Ela se arrependeu de ter vibrado negativamente e julgado cruelmente? Ela entendeu que escolheu o caminho do sofrimento?
Em 99% dos casos não haverá aprendizado. Simplesmente, porque não houve a intenção de aprender.
Ela agiu com baixíssimo nível de consciência. Como uma autômata, ela repetiu o que havia dentro de sua mente. Ao repetir, ela reforçou o comportamento medroso e as crenças que dominam sua mente. O resultado: a associação entre violência e adolescentes ficou mais forte. Não importa que a realidade "não confirmou" sua crença. Importa é que sua crença reconstruiu a realidade. Ou seja, ela sentiu alívio por não ter sido assaltada, daquela vez. Da próxima vez, quem sabe, virá o assalto. (O cérebro funciona assim: as associações que são usadas são reforçadas.Para enfraquecê-las necessita do esforço da consciência ou de um "choque de realidade". )
Uma pessoa treinada para ter uma mente reativa, como esta senhora, pode ter milhares de experiências positivas. Mas, as experiências (reais ou imaginárias) centrais em suas mentes serão as negativas. São pessoas com um poder tremendo de gerar e manter dentro delas o negativo. Elas conseguem reforçar a negatividade mesmo em situações de paz e tranquilidade.
E o pior: se permitem emitir emanações e vibrações negativas sem a menor consciência do mal que podem causar a si e ao próximo. Com a desculpa de que são vítimas, emanam pensamentos cruéis: "meu Deus, eles vão me assaltar..."
De cada mil julgamentos que o ser humano faz, 950 são atos cruéis e infelizes. Todo julgamento é parcial. Todo julgamento está altamente sujeito a erros.
O que fazer?
1) acostume a parar seus pensamentos. A mente funciona compulsivamente quando está em um estado semi-consciente (a condição normal das pessoas): um pensamento desencadeia outro pensamento que desencadeia um terceiro pensamento, e assim por diante. Tudo sem controle, compulsivamente. Um passo muito importante é parar a sequência de pensamentos. No início ficará um vazio ruim, depois você descobrirá que este vazio descansa a mente, diminui ansiedade e angústia, melhora o humor, etc.
A senhora poderia ter decidido não pensar nada sobre aqueles adolescentes. Todos podem parar seus pensamentos.
Uma das grandes vantagens de parar o pensamento é ter mais tempo para observar a realidade e aprender (indico este texto para explicar a questão do tempo: http://caminhonobre.com.br/2013/02/24/aceitacao-tempo-para-aprender/ ).
2) saia do zona de conforto do julgamento. Você julga porque considera que está correto em sua avaliação. Para aprender a não julgar ou não julgar compulsivamente, é necessário algumas vezes abrir mão da confiança que você deposita na sua forma de organizar sua mente.
Não confie plenamente nas muitas justificativas que sua mente lhe fornece. Podem ser justificativas sensatas ou insensatas; mas, com certeza, são justificativas que não abarcam a realidade completa.
3) tenha a intenção de aprender. Algumas das qualidades necessárias para aprender: experimentar, correr riscos e colocar a atenção e o foco em outras possibilidades.
Aprender é uma ótima forma de não ficar repetindo erros. Mas, para aprender deve acontecer o enfrentamento com a realidade. Explicando: a senhora poderia dizer para si – "não vou acreditar no meu medo. Estes adolescentes podem não ser ladrões, vou relaxar e não vou emanar negatividades". Após passar pela situação e ver que os adolescentes foram embora, ela terá aprendido uma lição (por que saiu do ato condicionado, semi-consciente, e forçou sua consciência a focar a realidade).
Ela teve a intenção de aprender, tomou a postura de aprendizado, tornou relevante variáveis que sua mente reativa desprezava. Ela estava pronta para aprender com a experiência.
Não é toda experiência que ensina. Não é todo sofrimento que faz as pessoas mudarem. É preciso ter disponibilidade interna e intenção para aprender.
Você julga com os valores, crenças e treinos que possui na sua mente. Estes julgamentos são a base de boa parte dos problemas que você possui. E, também, são a base da maior parte dos problemas que você não consegue resolver. Além de limitarem sua vida, impedem vitórias, conquistas, alegrias, paz e muito mais.
Se você faz parte daqueles que querem aprender, amadurecer e evoluir espiritualmente, saiba que é fundamental colocar em prática os ensinamentos contidos neste texto. A reforma íntima se realiza com esforço e dedicação, já dizia Kardec.
Fonte: http://www.psicologiaracional.com.br/2013/06/julgar-o-outro.html
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