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@ " RITMOS SELVAGENS .... ( GUIMARÃES ROSA ) !!!

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"Ritmos Selvagens

 

Guimarães Rosa

 

 

 

Pág-20

 

O pica-pau, vermelho e verde,

paralelo ao tronco

branco de papel de uma mirtácea,

como um poeta , que desde a madrugada

vem fazendo o retoque de seus versos,

martela o bico , na casca da árvore,

o poema dos índios caipós:

 

--"Índios escuros, das terras fechadas,

que ninguém pisou,

dos chapadões a meio caminho dos grandes rios,

broncos e brutos, sem arcos nem flechas,

rompem cabeças de missionários a cacetadas,

fazem tremer, fazem correr as outras tribos,

voam no campo atrás dos cascos dos veados,

matam veados só com pauladas,

caiâmu-poguê-dje –ipô!..."

 

Depois de pendurar num ramo de cajueiro

a casa de cômodos

em cartolina cônica e amarela,

 

 

Pág-22

 

os estúrdios marimbondos-de-chapéu

saem dos alvéolos e fermentam no ar,

num remoinho de ferrões e de asas,

zumbindo o hino dos índios das matas:

 

--"Bem escondido entre as ramadas da beira d'água,

como curta e grossa jibóia quieta,

toda enroscada nas penas lindas de uma arara

que devorou,

o nhambiquara, de rosto escuro, zingomas pintados

a jenipapo,

fica dez horas, todo encolhido, de bote armado,

os olhos vivos, o arco pronto, muita paciêcia,

e trinta flechas envenenadas ..."

 

O paturi, no alto,

deixa escapar do bico a piaba,

que desce no ar como uma gota

de mercúrio vivo,

e grasna para a lontra, que avança n'água,

em linha reta, como um torpedo,

noticias novas que trouxe do Xingu:

 

 

Pág-23

 

--"O bacari, belo e tranqüilo,

com o arco vermelho da guarantã,

parece mudo, parece bobo, olhando a água,

e joga a flechada no rio crespo, fisgando o lombo

de um surubi...

E fica triste, e fica bravo, só porque a ponta da flecha

                                                             [longa

pegou dois dedos mais pra baixo, no dorso liso do

                                             [peixe de ouro,

que ele nem viu..."

 

Triste tucano, de bico armado,

descompensado , maior que o corpo,

chega voando e toma de assalto

um dos fortins da terra vermelha

que as térmicas vão escalonando pela campina,

e, bem na grimpa do cocoruto,

desprende a queixa dos índios do sul:

 

--"Os índios moles , sujos e tristes,

que não têm redes, que falam manso e dormem no

                                                           [chão,

e pulam batendo com as mãos nas pernas

                                                    [ensaguentadas

 

 

pág-24

 

das ferroadas das muriçocas,

e cantam semanas , tirando a carne dos esqueletos, o

                                                 [bacororo,

grandes batoques nos beiços grossos, sempre tremendo,

pobres bororos,

sentem a onça a três quilômetros, na mata espessa,

bem antes da fera os farejar..."

 

E o jacaré crespo, de lombo verde, de papo amarelo,

ensina à arara,

toda azul, de patas pretas , de pálpebras pretas,

que ensina o gavião, que passa no vôo, fino e pedrês,

que ensina a um bando, que vai de mudança, de

                                                 [maracanãs,

o canto das índias dos carajás:

 

--"Carajás das praias do Araguaia,

meio vestidas, meio peladas, mal domesticadas,

mulheres roxas, de nariz chato,de pés enormes,

trincando piolho nos dentes brancos,

índias pesadas, quase na hora de dar à luz,

vêm nas pirogas, em troncos bambos, finos , compridos,

com cachos de meninos , curumins vivos, equilibrados,

dependurados,

 

 

pág 25

 

e as canoinhas passam ,à flor das águas , como coriscos,

à frente dos ventos, batendo piranhas, vencendo asas e

                                                      [pensamentos

Araguaia abaixo, do Caiposinho até conceição..."

 

O dia inteiro, as águas ouviram,

e as matas entederam,

as vozes que o vento vai levando

para oeste, para longe, para alem de Culuene,

onde o sol se apaga , como a fogueira da última taba,

onde os cocares dos buritis pendem imobilizados,

e o rio marulha a canção dos guerreiros

que vão desaparecer...

 

 

 

 

Beijos

Cida St !!!

 

 

 



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